Conhecemos os mandamentos: “Não
matareis / Não cometereis adultério / Não furtareis / Não prestareis falsos
testemunhos / Não fareis mal a ninguém / Honrai a vosso pai e a vossa mãe”.
Conhecemos também a seguinte
premissa: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe a fim de viverdes longo tempo sobre
a terra que o Senhor vosso Deus vos dará”. (Decálogo; Êxodo, cap. XX, v.12).
PIEDADE FILIAL
O mandamento título de hoje não é senão uma resultante da lei geral de
caridade e de amor ao próximo, o que é fácil de entender desde que não se pode
amar o próximo sem amar pai e mãe. Apenas a palavra honrai, aqui, contém um
dever a mais a seu respeito: o da piedade filial, ou seja, ao amor acrescentar
o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, ou seja, a obrigação
de cumprir para com eles, de um modo mais exigente, tudo o que a caridade manda
para com o próximo. Toda violação a esse mandamento é duramente punida. Honrar
pai e mãe não se resume a respeitá-los, mas assisti-los na necessidade, proporcionar-lhes
repouso na velhice, devolvendo-lhes o que nos deram na nossa infância.
Para com os pais sem recursos é
que se prova a real piedade filial. Há filhos que creem fazer um ‘tour de
force’ oferecendo-lhes tão somente o necessário para satisfazer-lhes a fome
quando vivem desfrutando do melhor, do especial. Há filhos que recebem em casa os
pais carentes, mas lhes reservam os menos confortáveis aposentos, agravando
essa má disposição de apoio ao proporem participação nos trabalhos de casa. Não
têm sensibilidade para reconhecer o que receberam ao nascerem até se tornarem
adultos. Não, o que os filhos devem aos pais não é só o exatamente necessário,
mas também uma parcela de seu supérfluo, de gentilezas e cuidados especiais - a
piedade filial, como Deus a concebeu. Esses filhos ingratos serão punidos pela
ingratidão ainda na existência em curso ou numa futura encarnação.
Os pais que não reconhecem seus
deveres com os filhos receberão de Deus a devida punição, não cabendo aos
filhos nem ato da censura, pois talvez eles próprios merecessem que fosse assim.
De modo que os filhos devem tomar como regra de conduta para com os pais todos
os -preceitos de Jesus ligados ao próximo e entender que todo e qualquer
procedimento negativo relativo a estranho o é ainda mais em relação a parentes.
Enquanto no caso de parentes possa ser considerado apenas uma falta, no caso de
pais, passa a ser crime caracterizado por falta de caridade unida à ingratidão.
Um ponto a considerar aqui é:
Deus, ao dizer “ Honrai a vosso pai e a vossa mãe afim de viverdes longo tempo
sobre a terra, que o Senhor vosso Deus vos dará”, por que promete como
recompensa a vida terrestre e não a vida celeste? Na expressão ‘Que Deus vos dará ‘, suprimida
na forma moderna do Decálogo, pode estar a explicação. Na época em que foram
ditas, os hebreus ainda não entendiam a vida futura, sua vida não prosseguia
além da vida corporal. Deste modo, eles deviam ser mais estimulados pelo que
viam do que pelo que não viam. Daí, Deus falar numa linguagem que eles pudessem
entender, dando-lhes em perspectiva o que pode satisfazê-los. A esta altura,
estavam no deserto. A Terra Prometida - sua aspiração efetiva: eles não desejavam nada
além disso e Deus lhes disse que viveriam nela por longo tempo desde que observassem
seus mandamentos.
Ao tempo de Jesus na terra, o
povo hebraico já apresentava ideias mais evoluídas – era a ocasião azada para
iniciá-los na vida espiritual. E Jesus fervorosamente lhes disse: ”Meu reino
não é deste mundo. É nele, e não na Terra, que recebereis a recompensa de
vossas boas obras”. Deste modo, a Terra Prometida material se torna numa pátria
celeste. Da mesma maneira, quando os chama a cumprir o mandamento: “Honrai a
vosso pai e a vossa mãe” não é mais a terra que lhes promete, mas o céu, como
vimos nos capítulos II e III.
QUEM É MINHA MÃE E QUEM SÃO MEUS IRMÃOS
Analisemos esta passagem: “Tendo
chegado a casa, nela se reuniu uma tão grande multidão de povo, que não podiam
mesmo tomar seu alimento. Seus parentes, tendo sabido disso, vieram para se
apoderarem dele porque diziam que ele havia perdido o espírito.
Entretanto, sua mãe e seus irmãos
tendo vindo e ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo Ora, o povo estava
sentado ao seu redor e lhe disse: Vossa mãe e vossos irmãos estão lá fora vos chamando.
Mas ele lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E olhando
aqueles que estavam sentados ao seu redor: Eis, disse, minha mãe e meus irmãos
porque todo aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e
minha mãe.
Tais palavras parecem estranhas nos lábios de
Jesus, pois fazem contraste com sua bondade e sua grande benevolência para com
todos. Os descrentes não perderam a
ocasião de fazer disso uma arma, apontando-o como contraditório. Um fato que
não se pode refutar é que sua doutrina tem por base essencial a lei do amor e
da caridade, não podendo, pois, destruir de um lado o que estabelecia de
outro. Do exposto se conclui que, se
certas máximas estão em contradição com o princípio, ou as palavras que lhe são
atribuídas foram mal expressadas ou não são dele.
Causa estranheza ver, nesse
particular, Jesus mostrar tanta indiferença para com os parentes e, de alguma
forma, renegar sua mãe. Quanto aos irmãos, sabe-se que nunca tiveram simpatia
por ele. Espíritos pouco adiantados, não haviam percebido a missão a cargo de
Jesus, achavam-no esquisito e seus ensinamentos não os tinha alcançado tanto
que não houve nenhum discípulo entre eles, parecendo até queque partilhavam das
prevenções de seus inimigos. Quando se apresentava na família, era acolhido
mais como estranho, tendo São João chegado a dizer “que não acreditavam mais nele”.
(cap. VII, v.5).
Quanto à sua mãe, não se pode
negar que era boa e terna com seus filhos, mas parece não ter feito uma ideia
muito justa de missão de Jesus, já que não seguia seus ensinamentos, nem lhe
prestou testemunho como o fez João Batista. A solicitude maternal era em Maria
o sentimento dominante. Quanto a Jesus, não podemos admitir que tenha renegado
sua mãe. Um pensamento desse tipo não se coaduna com aquele que disse: “Honrai
a vosso pai e a vossa mãe”. Há de se
descobrir um outro sentido para essas suas palavras, Não esqueçamos que sua linguagem era alegórica por contingência.
Ficamos por aqui sem a costumeira recreação Acrescento apenas um pensamento bonito de alguém que se importa conosco e nos oferece a luz de seus conhecmentos
Caminhe alegre pela vida. Plante sementes boas de paz e otimismo, vivendo bem com a consciência./ Carlos Pastorino