sábado, abril 03, 2010

Páscoa




Tarsila Amaral

COMEMORAÇÃO DA PÁSCOA


Páscoa, mais uma vez. Mais uma vez, volto a considerar aquele artigo que postei aqui, às vésperas da Páscoa, no ano passado: Páscoa - Comemorar ou Não? ( Fonte: O Observador).

Sinto a necessidade e o dever de repetir alguns daqueles parágrafos que tão bem mostram a posição do espirita em relação ao significado da Páscoa.

“Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa.... como fazem as demais filosofias cristãs.Todavia, o sentimento de religiosidade... é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou coletiva, acerca da Páscoa não é proibida nem desaconselhada. O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo.”

Como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos ou liturgias, tenta ir ao significado da Páscoa, contemplando outros valores.

“Antes,... faz-se necessário buscar no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento. A Páscoa... não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus.” Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma “comemoração”, na época de Jesus, uma festa cultural. Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do “pesah”, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à ‘festa dos ázimos’, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas”.

“É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia. Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno. Mas há outros elementos ‘evangélicos’ que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao ‘martírio’, ao sofrimento de Jesus e os últimos, à ressurreição e ascensão de Jesus. No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no pós-mortem”, o que é negado pela ciência.

“As igrejas cristãs insistem na hipótese de o Cristo ter subido aos céus em ‘corpo e alma’ e fará o mesmo em relação a todos os eleitos no chamado ‘juízo final’. A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a competência ou a qualificação de todos os Espíritos. Com tantas oportunidades quanto sejam necessárias, no nascer de novo, é possível a todos progredirem.”

“A páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos ‘nossos’ pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para ‘nos salvar’, dos nossos próprios erros ou dos erros cometidos pelos nossos ancestrais, em especial, os ‘bíblicos’ Adão e Eva, no Paraíso.”

“Esta tradição judaico-cristã da ‘culpa’ é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós, espíritas, devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande e última lição de Jesus que vence as iniquidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica para asseverar que ‘permaneceria eternamente conosco’, na direção bussolar de nossos passos doravante.

“...que possamos encarar a Páscoa como o momento de transformação, a verdadeira evocação de Liberdade ,...” a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria vida de Jesus, de amor ao próximo e valorização da própria vida.”

Com a exposição desses trechos explicativos, acho que ficou bem clara a nossa posição. Referendar a Páscoa é comemorar a vida, é entender que ela não cessa com a morte do corpo fásico, é ter certeza de que ela continua na espiritualidade, e que, por reencarnações sucessivas, o espírito vai-se depurando até alcançar a angelitude e aproximar-se da esfera divina.

Amemos a Deus sobre todas as coisas, amemos o próximo com a nós mesmos e estaremos em consonância com os ensinamentos de Jesus em sua passagem pela Terra e afinados definitivamente com o espírito da Páscoa.

Que nossa Páscoa seja florida e nos encha de esperanças .