Vaso de Flores Anita Malfati
RECAPITULANDO O EVANGELHO DE JESUS
Capítulo VIII Itens 1 a 7
BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO
DEIXAI VIR A MIM AS CRIANCINHAS
“Bem-aventurados aqueles que teem puro o coração porque verão a Deus”.
“Apresentaram-lhe então as criancinhas a fim de que ele as tocasse; e
como seus discípulos afastassem com palavras rudes aqueles que as apresentavam,
Jesus vendo isso zangou-se e lhes disse: Deixai vir a mim as criancinhas, e não
as impeçais; porque o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham. Eu
vos digo em verdade, todo aquele que não receber o reino de Deus como uma
criança, nele não entrará. E as tendo abraçado, as abençoou impondo-lhes as
mãos.”
Efetivamente, a pureza de coração
tem ligação estreita com a simplicidade e a humildade e rejeita totalmente todo
pensamento de egoísmo e de orgulho. Esta é a razão pela qual Jesus considera a infância
como símbolo dessa pureza, como o fez para o da humildade. Pode parecer injusta
essa comparação, considerando-se que o Espírito da criança pode ser muito velho
e, por conta disso, voltando à vida corporal, possa trazer as imperfeições de
que não se livrou em existências anteriores. Só um espírito que atingiu a
perfeição poderia ser modelo da verdadeira pureza. Em verdade, porém, do ponto
de vista da vida presente, a criança nos oferece o retrato da inocência, sim,
por não ter tido tempo ainda de manifestar nenhuma tendência perversa. E Jesus,
na realidade, não afirma que o reino de Deus é para elas, mas para aqueles que
a elas se assemelham. Se, porém, o espírito que reencarna já existiu, por que
não se apresenta ele, a partir do de seu novo encarne, com suas características
anteriores? Todas as ações de Deus são sábias. Uma criancinha é um ser
dependente, precisando de cuidados delicados que só a ternura materna é capaz
de oferecer, sentimento que se dilata em presença da fraqueza e ingenuidade
infantil. A criança precisa dessa solicitude e desse desprendimento maternos
para se desenvolver bem, física e espiritualmente. Aliás, seria preciso que a
atividade do princípio inteligente fosse proporcional à fraqueza do corpo que
não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, assim como
presenciamos entre crianças muito precoces. Por esse motivo, com a proximidade
da encarnação, o Espírito perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, permanecendo
num estado de sono, durante o qual suas faculdades se conservam em estado
latente. Trata-se de um estado transitório, necessário para dar ao Espírito um
novo ponto de partida e fazê-lo esquecer coisas que poderiam perturbá-lo na
nova existência terrestre. No entanto, seu passado reage sobre ele, que brota
para a nova vida mais forte moral e intelectualmente, amparado pela intuição
que lhe resta das experiências anteriores.
Nascido, suas ideias experimentam
um gradual impulso, à proporção que seus órgãos se desenvolvem. Daí, dizer-se
que, durante os primeiros anos, o Espírito conserva-se criança já que as ideias
que lhe formam o caráter ainda estão adormecidas. Com os instintos dormitando,
ele é mais flexível e, dessa forma, mais moldável às impressões que podem
modificar sua natureza e fazê-lo progredir, o que facilitará aos pais a tarefa
de educar. E o Espírito continua por mais um tempo na faixa da inocência.
Logo, Jesus está com a razão
quando, apesar da anterioridade da
alma, considera a criança como símbolo da pureza e da simplicidade.
Pecado por pensamento: Adultério
Aos Antigos foi dito: ‘Não cometereis adultério. Mas eu vos digo
que todo aquele que tiver olhado uma mulher com um mau desejo por ela, já
cometeu adultério com ela, em seu coração”.
A palavra adultério aqui deve ser
tomada num sentido mais largo. Jesus a empregou em sentido amplo, para designar
o mal, o pecado, enfim, todo pensamento malsão. A pureza verdadeira não está só
nos atos, mas no pensamento também. Daí Jesus considerar o mau pensamento um
sinal de impureza.
Esse é um princípio que nos leva
à seguinte indagação: um pensamento mau, não seguido de efeito, pode modificar a
natureza de um Espírito e fazê-lo progredir?
Uma alma infratora, que avança na
vida espiritual e, aos poucos, se despoja de suas impurezas, tende a reagir aos
pensamentos impuros e, se consegue repeli-los, sente-se mais firme e mais segura
com sua vitória - não cometeu pecado. Já a que não teve boa intenção e só não
praticou a má ação por falta de oportunidade, essa é tão culpada quanto seria
se a tivesse cometido. Já a que não teve boa intenção e só não praticou a má
ação por falta de oportunidade, essa é tão culpada como se a tivesse cometido.
Em resumo, o progresso é um fato
na pessoa que não concebe o mal. Na pessoa que chega a concebê-lo, mas consegue
reagir e se supera, o progresso está em pleno curso. Naquela que se compraz no
mau caminho, o mal ainda está em pleno vigor.
Deus, que é justo por excelência, pesa todas essas diferenças na
responsabilidade dos atos e dos pensamentos de suas criaturas.