quarta-feira, abril 01, 2015

RECAPITULANDO O EVANGELHO DE JESUS Capítulo X Itens 1 a 13


BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE SÃO MISERICORDIOSOS


Perdoai para que Deus vos perdoe


Vamos ler com atenção estas três máximas que introduzem o tema:

Bem-aventurados aqueles que são misericordiosos, porque eles próprios obterão misericórdia.

Se perdoardes aos homens as faltas que eles fazem contra vós, vosso Pai celestial vos perdoará também vossos pecados, mas se não perdoardes aos homens quando eles o ofendem, vosso Pai, também, não vos perdoará os pecados.

Se vosso irmão pecou contra vós, ide lhe exibir sua falta em particular, entre vós e ele; se ele vos escuta, tereis ganho o vosso irmão. Então Pedro se aproximando, lhe disse: Senhor, quantas vezes perdoarei ao meu irmão, quando ele houver pecado contra mim? Será até sete vezes? Jesus lhe respondeu: Eu não vos digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.


A misericórdia consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. É como uma extensão da doçura – aquele que não exercita a misericórdia não consegue ser brando, ser pacífico. O ódio e o rancor são próprios dessas almas sem grandeza. Já o esquecimento das ofensas denota uma alma elevada, sempre acima de qualquer provocação ou insulto. As primeiras são sempre ansiosas, irritadiças, desconfiadas. As outras são calmas, amigas da caridade.
Engana-se aquele que diz que nunca perdoará ofensas porque, se não for condenado pelos homens, certamente o será por Deus. Na realidade, como pode pretender o perdão de seus erros se ele mesmo não é capaz de perdoar os dos outros? Os ensinamentos de Jesus deixam claro que a misericórdia deve ser ampla, o que está contido em sua sentença: perdoa ao seu irmão não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
 Duas são, no entanto, as maneiras de perdoar: uma elegante, nobre, bem-intencionada que protege o amor próprio do oponente com generosidade. A outra é mal intencionada, aquela na qual o ofendido impõe ao ofensor condições tão humilhantes que tornam o perdão irritante, sem validade moral. A ostentação com que age anula o valor do perdão, não levando a reconciliação nenhuma. Em qualquer tipo de contenda, a parte que se mostre mais desinteressada, mais conciliadora, com grandeza de alma conquistará sempre a simpatia das pessoas justas e imparciais.


RECONCILIAR-SE COM OS ADVERSÁRIOS

Reconciliai-vos o mais depressa com o vosso adversário enquanto estais com ele no caminho, a fim de que vosso adversário não vos entregue ao juiz, e que o juiz não vos entregue ao Ministro da Justiça, e que não sejais aprisionado. Eu vos digo em verdade que não saireis de lá, enquanto não houverdes pago até o último ceitil.

É a exata hora de falarmos na prática do perdão e na do bem em geral. Em seu exercício, além do efeito moral, há também um efeito material. Como sabemos, a morte não nos livra de nossos inimigos: os Espíritos vingativos podem seguir, além do túmulo, aqueles por quem guardam rancor e os atormentam de várias formas. Encarnados e menos livres, eles são vítimas fáceis, o que, às vezes, leva a casos de obsessão, quando não direciona a casos de subjugação ou de possessão, bem mais graves. O obsidiado e o possesso são, assim, vítimas de uma vingança anterior à qual deram lugar por sua conduta. A justiça divina permite isso para puni-los do mal que fizeram ou para castigá-los por não terem tentado praticar o perdão durante todo o seu curso de encarnações. Daí, para sua tranquilidade futura, o que importa é reparar mais depressa os erros cometidos contra o próximo, perdoar seus inimigos para acabar, antes de morrer, com todo mal-estar existente, com toda motivação para o mal baseada em animosidade ulterior. Dessa forma, de um inimigo cheio de animosidade neste mundo pode-se fazer um aliado no outro. Sendo ele bem intencionado e sincero, sua atitude será válida. Ao recomendar que nos reconciliemos o mais depressa possível com nossos adversários, Jesus não tem como intuito o apaziguamento das discórdias na existência atual, mas tem como escopo impedir que elas se tornem crônicas nas vidas que hão de vir. E sentencia: Não saireis de lá, enquanto não houverdes pago até o último ceitil, o que significa  até que tenha satisfeito inteiramente a justiça divina.


O SACRIFÍCIO MAIS AGRADÁVEL A DEUS

Se, pois, quando apresentardes vossa oferenda ao altar, vós vos lembrardes de que o vosso irmão tem alguma coisa contra vós, deixai vossa dádiva ao pé do altar e ide antes reconciliar-vos com o vosso irmão, e depois voltai para oferecer vossa dádiva.

Ao dizer “Ide vos reconciliar com o vosso irmão antes de apresentar vossa oferenda ao altar”, Jesus pretende ensinar que o sacrifício mais caro ao Senhor é o do próprio ressentimento ou seja, antes de se apresentar a ele para ser perdoado, é preciso ter perdoado e que se cometeu injustiça contra um de seus irmãos, é preciso tê-la reparado. Só então a oferenda será agradável porque virá de um coração puro de todo mal. A alma que ele oferece a Deus deve estar purificada. Entrando no templo do Senhor, deve deixar do lado de fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mal contra seu irmão. Só então sua prece será encaminhada ao Senhor.


 O ARGUEIRO E A TRAVE NO OLHO

Por que vedes um argueiro no olho de vosso irmão, vós que não vedes uma trave no vosso olho? Ou como dizeis ao vosso irmão: Deixai-me tirar um argueiro do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso? Hipócritas, tirai primeiramente a trave do vosso olho, e então vereis como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão.

Ver o mal de outrem antes de ver o que está em nós próprios é um dos defeitos mais imprudentes no homem e é, sem dúvida nenhuma, o orgulho que leva o homem a esconder de si mesmo e dos outros tal defeito tão contrário à caridade, que é simples e indulgente.  Sendo o orgulho o pai de muitos vícios, é, consequentemente, a negação de muitas virtudes e está presente na maioria das ações humanas. Daí Jesus dedicar-se a lutar contra esse mal como o principal obstáculo ao progresso.


NÃO JULGEIS A FIM DE QUE NÃO SEJAIS JULGADOS. AQUELE QUE ESTIVER SEM PECADO LHE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Não julgueis a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros; e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles.

Então os Escribas e os Fariseus levaram à presença de Jesus uma mulher apanhada em adultério, colocaram-na de pé, no meio do povo. Voltaram-se, então, para Jesus interrogando: Mestre, esta mulher acaba de ser flagrada em adultério. Pela lei de Moisés, ela deve ser lapidada por ser adúltera. Como o Mestre se sente em relação a este procedimento? Claro que se tratava de um complô para tentá-lo e haver razão de comprometê-lo. Mansamente Jesus abaixou-se e começou a escrever com o dedo sobre a terra. Como continuassem a interrogá-lo, Jesus, erguendo-se, lhes disse: Dentre vós, aquele que estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra. E abaixando-se de novo, continuou a escrever sobre a terra. Ouvindo-o falar dessa maneira, foram-se retirando um após o outro.  Desse modo, permaneceram no local apenas Jesus e a mulher. Então, Jesus dirigiu-se a ela perguntando-lhe onde estavam seus acusadores e se ninguém a havia condenado. Diante de sua resposta negativa, ele respondeu: Também não vos condenarei. Ide e, daqui por diante, não pequeis mais.
Jesus disse então: “Aquele que estiver sem pecado, lhe atire a primeira pedra”. Esta máxima faz com que olhemos a indulgência como um dever, não havendo ninguém que dela não tenha necessidade para si mesmo. Ela nos ensina que não devemos julgar os outros mais severamente do que julgaríamos a nós mesmos, nem condenar em outrem o que relevamos em nós. 
A censura lançada sobre a conduta de outrem pode ter dois motivos: reprimir o mal ou desacreditar a pessoa cujos atos estão sendo criticados. Claro que a segunda razão é da maledicência e da maldade e, portanto, refugada. O primeiro pode ser louvável e torna-se mesmo um dever em certos casos, uma vez que disso pode resultar um bem.
Jesus não podia proibir de recriminar o mal se ele mesmo disso nos deu exemplo, agindo energicamente, tentando dizer que a autoridade da censura está em razão da autoridade moral daquele que a emite.  De resto, a consciência íntima recusa todo respeito e toda submissão voluntária àquele que, estando investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios que está encarregado de aplicar. Aos olhos de Deus, não há autoridade legítima, a não ser aquela que se baseia no exemplo que dá em relação ao bem.


Explicado o tema, vamos a um pouco de música que sempre é bem-vinda e estimulante.


                                                       Alegria dos Homens    Bach