sexta-feira, maio 26, 2006

MARGARIDAS / Tarsila do Amaral

Lamento ter tido que fazer um hiato tão extenso nesta minha costumeira prosa em que apresento trechos esclarecedores de espíritos elevados ou de irmãos encarnados que se dedicam a orientar o próximo, conto casos, oferto poemas, tento transmitir as verdades que consigo entrever, enfim, procuro a companhia dos leitores que nem sempre se pronunciam, mas sinto que existem, para uma conversa despojada, uma prece fervorosa, um encontro favorável a ambas as partes.

Essa dilatada pausa teve um motivo: a doença, seguida de desencarne, de meu esposo Teófilo Biggio de Magalhães, no dia 9 de abril, há pouco mais de 1 mês e meio, aos 81 anos, depois de decorridos 55 anos de vida em comum.

Embora como espírita eu tenha a obrigação de entender as razões das dores terrenas, confesso que seu regresso à vida espiritual me afetou com muito rigor e tenho lutado por readquirir a serenidade que ele soube sempre me passar.

Volto agora confiante na força que virá de vocês, meus companheiros de fé e de propósitos, assim o espero.

Para hoje, temos um texto elucidativo de Emmanuel, um caso bonito na escalada da vida de Chico Xavier e uma oportuna ponderação pelo espírito de Bezerra de Menezes.


SOMBRA E LUZ
Emmanuel / médium Chico Xavier
Do livro CURA

Nenhum espírito da comunidade terrestre possui tanta luz que não admita em si certa nesga de sombra, nem existe criatura com tanta sombra que não guarde consigo certa faixa de luz.
Aprende a fixar o próximo com a claridade que há em ti.
Não creias, porém, que semelhante trabalho se filie ao menor esforço, porque, pelo peso das trevas que ainda imperam no mundo, a sombra que ainda nos envolve, na Terra, a cada instante, insinuar-se-nos-á no próprio entendimento, perturbando-nos as interpretações.
Se te demoras na obscuridade, não enxergarás senão os defeitos e as cicatrizes, as feridas e as nódoas que caracterizam a fisionomia do irmão infortunado, constrangendo-te ao medo e à usura, à incompreensão e à aspereza. E sabemos que quantos se detêm no cipoal ou no charco não encontram outros elementos, além da lama ou do espinho, para oferecer.
Alça a lâmpada acesa do conhecimento superior e avança para a frente, e, então, a ignorância e a delinqüência surgir-nos-ão aos olhos como enfermidades da alma, que é preciso extirpar, a benefício da felicidade comum.
*Não saiba a vossa mão esquerda o que deu a direita* ensina-nos o Evangelho e ousamos acrescentar: *não saiba a nossa sombra o que fez a nossa luz* porque dessa forma, avançando, acima das tentações da vaidade e do desânimo, a chispa humilde de nossa fé no Bem Infinito poderá transformar-se em chama viva e redentora para o caminho de todos os que nos cercam.


O REMÉDIO
do livro LINDOS CASOS DO CHICO, de Ramiro Gama

Chico, nessa noite, estava muito fatigado, quando, à hora da prece costumeira, aparece-lhe Dona Maria João de Deus.

*Minha mãe*, roga ao espírito carinhoso, *como fazer para alcançar a vitória no cumprimento de meus deveres?*

*Meu filho, só conheço um remédio: servir.*

*Mas, e as dificuldades de entendimento com os outros? Como espalhar as bênçãos do Espiritismo com quem não as deseja, se, às vezes, oferecendo o melhor que possuímos, apenas recolhemos pedradas?*

*Servir é a solução.*

*Entretanto, há pessoas que nos odeiam gratuitamente. Malsinam-nos as melhores intenções, detestam-nos sem motivo e dificultam-nos o mínimo trabalho. Que me diz a senhora? Julga que existe algum recurso para fazer a paz entre elas e nós?*

*Sim, há um recurso: servir sempre.*

*Então, a senhora considera que, para todos os males da vida, esse é o remédio?*

*Sim, meu filho, remédio essencial. Sem que aprendamos a servir, ainda mesmo quando tenhamos boas intenções, tudo em nós será simples palavras que o mundo consome.*

E, depois de semelhante receita, o Espírito de Dona Maria retirou-se como quem não tinha outro remédio a ensinar.


PEDRAS DA VIDA

Há situações que constituem a nossa prova aflitiva e áspera, mas redentora e santificante.
Perdoemos as pedras da vida pelo ouro de experiência e de luz que nos oferecem.
E, sobretudo, armemo-nos de coragem para o trabalho, porque é na dor do presente que corrigimos as lutas de ontem, acendendo abençoada luz para o nosso grande porvir.

Bezerra de Menezes /Médium: Francisco Cândido Xavier