sexta-feira, novembro 13, 2015

RECAPITULANDO O EVANGELHO DE JESUS Capítulo XV Ítens 1 a 9


Carlos Scliar



FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO


O QUE É PRECISO PARA SER SALVO

                                         PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO




Repassemos esta parábola: Quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, se assentará no trono de sua glória e, com todas as nações reunidas diante dele, separará uns dos outros, como um pastor separa as ovelhas dos bodes, e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda.
O rei dirá, então, àqueles que estão à sua direita: Vinde, vós que fostes benditos por meu pai, possuí o reino que vos foi preparado desde o início do mundo, porque eu tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, tive necessidade de alojamento e me alojastes, estive nu e me vestistes, estive doente e me visitastes, estive na prisão e viestes ver-me.
Então, os justos lhe responderão: Senhor, quando vos vimos com fome e vos demos de comer, ou com sede e vos demos de beber? Quando vos vimos sem teto e vos alojamos, ou sem roupa e vos vestimos? Quando vos vimos doentes ou na prisão e viemos vos visitar? E o rei lhes responderá: Eu vos digo em verdade, quantas vezes o fizestes com relação a um destes desvalidos, foi a mim mesmo que o fizestes. E dirá, em seguida, àqueles que estarão à sua esquerda: Retirai-vos de mim, malditos, ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e para seus anjos, porque eu tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, tive necessidade de teto e não me alojastes, estive nu e não me vestistes, estive doente e na prisão e não me visitastes.
Então eles lhe responderão também: Senhor, quando foi que vos vimos com fome, com sede, ou sem roupa ou doente, ou na prisão, e deixamos de vos assistir? E ele lhes responderá:  Em verdade vos digo: todas as vezes que deixastes de dar proteção a um desses desvalidos deixaste de dá-las a mim mesmo.
 E, então, estes irão para o castigo eterno e os justos para a vida eterna.
A esta altura, um doutor da lei, para tentá-lo, levantou-se e perguntou-lhe: Mestre, o que é preciso que eu faça para possuir a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Que é que está escrito na lei? E ele lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma, de todas as vossas forças e de todo o vosso espírito, e vosso próximo como a vós mesmos. Jesus lhe disse: Respondestes muito bem, fazei isso e vivereis!
 Mas esse homem, querendo passar por justo, disse a Jesus: Quem é meu próximo? E Jesus, tomando-lhe a palavra, disse:
Um homem que descia de Jerusalém para Jericó, caiu nas mãos de ladrões que o despojaram, cobriram-no de feridas e foram embora, deixando-o semimorto. Em seguida, um sacerdote descia pelo mesmo caminho e, tendo-o percebido, passou do outo lado. Um levita, que veio também para o mesmo lugar, avistando-o, passou ainda do outro lado. Mas um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde estava esse homem, tendo-o visto, foi tocado de compaixão por ele. Aproximou-se do ferido, derramou óleo e vinho em suas feridas e as enfaixou. E tendo-o colocado em seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, apanhou duas moedas e as entregou ao hospedeiro, dizendo: tende bastante cuidado com este homem, e tudo que gastardes a mais, eu vos restituirei no meu regresso.
Qual desses três vos parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? O doutor lhe respondeu: Aquele que exerceu a misericórdia para com ele. Ide, pois, disse-lhe Jesus, e fazei o mesmo.

            Do exposto, conclui-se que toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em suas pregações, Jesus apresenta essas virtudes como o caminho da felicidade eterna, repetindo continuamente: bem-aventurados os humildes porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a                                  vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; fazei o bem sem ostentação; julgai a vós mesmos antes de julgar os outros.  Resumindo: Humildade e Caridade - qualidades que ele não cansa de recomendar - ele próprio dando o exemplo. Orgulho e Egoísmo - qualidades que não cessa de combater. Mas ele faz mais do que recomendar a caridade, simplesmente coloca-a, em termos claros e explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura.
Naquele tempo, Jesus não tinha como se comunicar facilmente, pois os homens ainda não eram capazes de compreender as coisas puramente espirituais. A saída era não se afastar das ideias vigentes, produzir imagens materiais que impressionassem e deixar para mais adiante os esclarecimentos. Mas ao lado dessa parte acessória, há a ideia dominante – a da felicidade que espera o justo e a da infelicidade que atinge o mau.
Neste julgamento supremo, o juiz não inquire sobre esta ou aquela formalidade, apenas quer saber se a caridade foi praticada e sentencia: os que prestaram assistência aos seus irmãos coloquem-se à minha direita; os que foram severos com eles, ponham-se à minha esquerda. Jesus também considerou o herético Samaritano que cuidou do próximo acima do ortodoxo que faltou com a caridade. Isso quer dizer que Jesus não fez só da caridade uma condição de salvação, mas a única condição de salvação, julgando-a capaz de encerrar implicitamente todas as outras: a humildade, a doçura, a benevolência, a indulgência, a justiça, todas elas, por assim dizer, uma vez que é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
A caridade é uma virtude mansa, sem invejas, benfazeja; não se toma de orgulho, não desdenha, não vai atrás de seus propósitos. Não se ofende com a inveja, nem com a injustiça, nem com o isolamento, mas sabe cantar vitória com a verdade, tudo suportando, esperando, sofrendo e, sobretudo, crendo que “Fora da caridade não há salvação”.
São Paulo dizia que a fé, a esperança e a caridade distinguem-se entre as virtudes, mas nenhuma sozinha tem a excelência da caridade, o que o levou a afirmar um dia: “Ainda quando eu tivesse a linguagem dos anjos, quando eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios, quando eu tivesse toda a fé possível, até transportar montanhas, se não tivesse caridade, eu nada seria”, afirmando de modo peremptório que a caridade é  absoluta em matéria  de excelência. E não parou aí: mostrou-a na beneficência, na reunião de todas as qualidades do coração, na bondade e benevolência para com o próximo.

FORA DA IGREJA NAO HÁ SALVAÇÃO

Vimos que a máxima “Fora da caridade não há salvação” se debruça sobre um princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à felicidade suprema. O dogma tem tessitura e acabamento particular. Necessário se faz que entendamos os limites de cada princípio.
“Fora da caridade não há salvação” é a máxima perfeita que aproximará todos os filhos de Deus, ”a consagração do princípio de igualdade diante de Deus e da liberdade de consciência”.  Com esta máxima por base, todos os homens tendem a ser irmãos e qualquer que seja a maneira de adorar a Deus, eles se estenderão as mãos e orarão uns pelos outros.
‘Fora da verdade não há salvação’ também não se mostra seguro a ser tomado como paradigma, nessa fase da humanidade em que o círculo dos conhecimentos aumenta sem cessar e as ideias evoluem francamente. Nem mesmo a humanidade pode aspirá-la, totalmente, pois que ela é proporcional ao seu adiantamento espiritual. A verdade absoluta não pertence senão aos espíritos de ordem mais elevada. E nisso vemos a generosa mão de Deus. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo que a salvação não depende da crença, contanto que se estude e cumpra a lei de Deus, não dirá “Fora do Espiritismo, não há salvação”. E, como ainda não pode liberar toda a verdade, também não dirá “Fora da verdade não há salvação”, o que poderá vir a acirrar e perpetuar o antagonismo na humanidade.
Diante do exposto, que tenhamos equilíbrio para lidar com a diversidade de opiniões e crenças e, guardando com rigor a máxima “Fora da caridade não há salvação”, aguardar o momento certo de podermos ter olhos de ver mais e ouvidos de ouvir mais.


            Encerrada a releitura pensemos na parte recreativa  de hoje.



Algumas vezes, quando uma flor isolada é oferecida a alguém, e vem a murchar. para que a lembrança se perpetue, a pessoa guarda a flor, ou algumas pétalas, ou o raminho, se for o caso, entre as folhas  de um livro. E nem sempre volta lá para prestar a homenagem devida à flor sacrificada. Quis produzir meu testemunho a respeito. Saiu este poemeto:


É ASSIM?

Desidrataram-te por inteiro.
Jazes ressequida entre as páginas
de um livro qualquer,
sem cor, sem brilho, sem odor, 
tua textura em sépia 
confinando algum segredo de amor.



                                                                    É mesmo assim?
                                                                    É tudo efêmero na vida?
                                                                    A graça, a cor, a flor?
                                                                    O sofrimento, a mágoa. o amor?

                                                                     
                                                                    Rio/2010
                              
  CIAO, BELLI!

Para finalizar o estudo de hoje, deixo-os com este comovedor testemunho de Adelio Alves, o poeta que encontrou Deus em suas fervorosas buscas:


REENCONTRO COM DEUS


Deus, passei tanto tempo te procurando, não sabia onde estavas.
Olhava para o infinito, não te via, e pensava comigo mesmo:
"Sera que tu existes"?
Não me contentava na busca e prosseguia.
tentava te encontrar nas religiões e nos templos,
Tu também não estavas.
Te busquei através dos sacerdotes e pastores,
Também não te encontrei
Senti-me só, vazio, desesperado e descri.
E na descrença, tropecei
E no tropeço, cai.
E na queda, senti-me fraco.
Fraco, procurei socorro.
No socorro, encontrei amigos,
Nos amigos, encontrei carinho.
No carinho, vi nascer o amor.
Com amor, vi um mundo novo.
E no mundo novo, resolvi viver.
O que recebi, resolvi doar
Doando alguma coisa, muito recebi.
E recebendo, senti-me feliz.
E ao ser feliz, encontrei a paz.
E tendo paz foi que enxerguei
Que dentro de mim e que tu estavas,
Foi em mim que, sem procurar,
Eu te encontrei...