sábado, julho 15, 2006

A VOZ DE DEUS EM MIM

Vocês vão apreciar tanto quento eu o trabalho que lhes ofereço hoje. É de uma amiga de fé, grande trabalhadora pelas causas espíritas, muito inspirada, uma pessoa de convicções.

A VOZ DE DEUS EM MIM

Leda Maria Flaborea

Na inquietude do nosso ser, ela aparece. Palavra solta, saída do nada... Às vezes frase, soprando feito vento sem rumo, sem direção. Voz que soa dentro de nós; gritos interiores que nos perturbam. Surge calma, surge revolta, mas sempre nos surpreende porque estamos desprevenidos. Sopro divino ou lembranças outras que extraímos de nossos guardados, passados ou presentes... Quem poderá dizer? E o que era apenas inquietude transforma-se também em pesar.

Diante do inesperado nossa alma sofre. Que seta é essa que surge em nossas mentes sem que lhe compreendamos o significado? Onde a ouvimos, onde a lemos? Que importância terá tido para que, de repente, surja assim, do nada?

Na verdade, que isso importa? Ela ali está e nos incomoda. É preciso desvendá-la para entendê-la. Às vezes, surge como ponto de partida de algo que há por vir, às vezes, como fim de aflição, que já experimentamos. Mas somente entenderemos isso, quando conseguirmos, num átimo, movimentar dentro de nós furacões e calmarias, alegrias e tristezas, revisando nossas idas e vindas em contínuas experiências de aprender com o próprio erro. São tantas lembranças... Somos tantos a revolver guardados... Lembranças infinitas, boas e más, perdidas no tempo.

Todavia, é necessário silenciar, por ora, todas as vozes que nos cercam e permitir, ao menos uma vez, que essa outra voz, voz de Deus na nossa consciência, nos guie nessa procura. Difícil exercício esse! Por que necessitamos desse barulho ensurdecedor que produzimos? É um turbilhão de palavras e sons que toma conta da nossa mente! E como é melancólico precisarmos da balbúrdia exterior para não ouvir nossos gritos interiores, para não ouvir os apelos de Deus a soar dentro de nós a nos chamar para a Vida. Vida que pulsa em nós e fora de nós, vida que se transforma nos transformando, que se sublima nos sublimando, que é nossa cúmplice ao nos proporcionar oportunidades de escolhas, em cada momento de nossas existências.

E assim, permanecemos nós, sempre e eternamente, diante de escolhas. Direito inalienável de todo ser humano, pois nada no Universo escolhe: simplesmente cumpre leis divinas, eternas, imutáveis. Somente ao homem é dado esse direito ? direito de escolher entre o bem e o mal, o certo e o errado ? mas, também, somente ao homem é dada à responsabilidade sobre suas escolhas. A cada um segundo as suas obras, não é disso que nos fala a lição evangélica? Onde, portanto, a estranheza, a dúvida? Onde a injustiça Divina?

De alguma forma, a palavra, antes solta e difusa, parece ensaiar um esboço, uma definição.

Mesmo nos incomodando, a seta parece fazer algum sentido, pois só prestamos atenção àquilo que nos perturba. Há quanto tempo terá estado próxima sem que detectássemos sua presença?... Sinal claro de que, em algum momento, no turbilhão mental, um espaço para a quietude aconteceu. Ensejo único nesse caos que geramos dentro e fora de nós. Momento mágico em que toda Força de Deus se fez presente em nós, e nos despertou para a necessidade de crescer, e por ainda não nos darmos conta desse chamamento, sentimo-nos aturdidos e perplexos.

Porém, é necessário buscar esse entendimento. É vital alargar esse espaço que aconteceu e que propiciou o surgimento dela, em algum momento, em nós, ainda que não saibamos quando, nem o por quê. A seu tempo e a sua hora todos compreenderemos. E é na procura desse espaço que, lentamente, vamos organizando nossos gritos. Que clamores são esses que, de repente, exigem de nós tamanho esforço, tanto desgaste! E o cansaço de pedir por paz nos vence, porque não basta pedir apenas. É chegado o momento de reavaliação de toda uma vida; é preciso rever valores e ideais; modificar atitudes, saneando pensamentos.

Buscando essa quietude interior, vamos revendo verdades que considerávamos eternas e com isso, jogamos fora lembranças guardadas sem razão e sem sentido, ocupando espaço precioso em nossos corações. Momentos difíceis e delicados de desligamento e de abandono daquilo que julgávamos eterno, porque nos sentíamos seguros assim. Ilusão?... Nem tanto! Apenas desconhecimento da realidade. Culpas?... Nenhuma! Somos todos aprendizes da Vida! O que não podemos, e talvez seja essa a única certeza que temos, é não tentar fazer tudo de uma só vez. O tempo é nosso aliado nesse lento trabalho de recuperação e de transformação. Estamos restaurando almas, curando chagas e, para isso, há que se ter cuidado e paciência.

Ao atingirmos essa vaga noção do que nos acontece, já teremos, certamente, percebido a maneira amorosa com que o Criador nos conclama à modificação. Sopro Divino a nos acalentar docemente com palavras que imaginamos vindas do nada e que, adormecidas em nossa consciência, nos despertam, convidando-nos ao imenso banquete do AMOR, através do PERDÃO a nós próprios e ao outro.

Publicado pelo Jornal Espírita (Órgão da Federação Espírita do Estado de São Paulo), em junho de 2006. página 6.


ALGUNS PENSAMENTOS

*... na solução de qualquer problema, o pior problema é a carga de aflição que criamos,
desenvolvemos e sustentamos contra nós.*

Albino Teixeira

*Uma fonte humilde garante o oásis na terra seca e apenas uma lâmpada acesa vence a força das trevas.*

Emmanuel

*A felicidade não está nas circunstâncias por que passamos, mas em nós mesmos.
Não é algo que vemos, como um arco-íris,
ou sentimos, como o calor de uma fogueira.
A felicidade é algo que somos.*

John Sheerin


Encerrando, mais um presente de uma amiga que compartilho com vocês:

REMANSO

Lêda Mello

Por trás do pôr-do-sol,
onde a noite agasalha o dia
com cuidados de amante,
onde o luzir de todas as cores esmaece
repousando em lençol de estrelas,
há um lugar de encontros.

Lá, por trás do pôr-do-sol,
há um lugar onde os sonhos,
enfim, soltos das amarras
do tempo e do espaço
e libertos das limitações humanas,
descansam de todas as buscas.

Lá, por trás do pôr-do-sol,
há um lugar de harmonia
onde os anseios da vida,
sem véus e sem máscaras,
atemporais e legítimos,
repousam de todas as lidas.

Lá, por trás do pôr-do-sol,
há um lugar de redenção.

Arapiraca (AL), 02.08.2005