terça-feira, maio 22, 2012

DEPOIS DA DECEPÇÃO

Carlos Scliar

DEPOIS DA DECEPÇÃO

Há dias estou para escolher um tema para o post deste mês.   Um deles é o da lei aprovada para o aborto no caso de gravidez de anencéfalos.  Na ocasião , muitos espíritas se fizeram ouvir contra a decisão do STF, houve artigos sobre o assunto por parte da FEB, de jornais espíritas em todo o país, de grupos espíritas de todos os estados,  da maioria dos blogs espíritas  da blogosfera . Nossa voz, porém, não foi suficiente para impor-se desta vez. Nosso discurso tem que prosseguir planejado, sistemático, elucidativo, convincente - um trabalho de elucidação da questão, de conscientização e orientação dos próprios espíritas e de determinação nessa luta, o que vai se refletir no bem-estar das mães que se encontrarem em face desse tipo de gravidez e tenham que fazer uma escolha.
Por isso, trouxe para meus leitores um artigo que encontrei na revista eletrônica  “O Consolador”, nº 260, sobre este palpitante assunto, onde a autora  toca em pontos importantes que devem ser levados em consideração por quem tem interesse em salvaguardar  os conceitos da doutrina e vir a ajudar algumas mães em sua hora de decisão.

Espíritas! Recordem! A voz do povo é a voz de Deus!
                                                                     Tânia Regina Reato

 “Senhor! Educa-nos para que possamos converter os detritos do temporal em adubo que nos favoreça a tarefa.” - Emmanuel
Muitas vezes se ouve o seguinte comentário entre os espíritas: “Se o Espiritismo estivesse propagado em todos os lugares, não veríamos as atrocidades que hoje vemos!”.
Pois bem, perguntemos então: Por que ele não está no conhecimento e prática do povo, alcançando todas as camadas sociais, como gostaríamos?
Não ignoramos o esforço faraônico de muitos grupos espíritas buscando propagá-lo nos meios de comunicação disponíveis. Não somente por amor à causa, mas também por estarem cônscios da importância em divulgá-lo. Porém, admitamos, os fatos comprovam que ainda temos muito a fazer neste campo. Entre tais fatos, destacamos a recente decisão da Suprema Corte admitindo aborto de fetos portadores da anencefalia, do mesmo modo que, anos atrás, foi legalmente admitido o aborto nos casos de estupro, medidas essas que deixam margem à aprovação do aborto irrestrito, para toda a gravidez indesejada. Teremos então, aí, uma severa atrocidade!
Bem, amigos: seria bom que meditássemos e refletíssemos a respeito dessa grave e delicada questão, antes de formular frases que poderiam vir a condenar, tanto aqueles que a aprovaram, quanto as mães que decidirem por adotá-la. Para começar, poderíamos nos perguntar: “O que poderíamos fazer para que leis como essas não sejam aprovadas pela nossa legislação?”.
Penso que, como espíritas e, portanto, relativamente conhecedores das leis que regem o Universo, entre elas, a da reencarnação e da imortalidade da alma, deveríamos nos empenhar mais em desenvolver mecanismos voltados à divulgação em massa da doutrina, objetivando a cessação do que possa vir a significar prejuízo à evolução humana. Mesmo que parcialmente. Imagino que, em se entendendo que um dos fatores que possa ter colaborado para a aprovação destas leis seja o desconhecimento das referidas leis universais sob a ótica espírita, especialmente, a da lei da reencarnação, é de se constatar que está havendo falhas ou importantes lacunas a serem preenchidas por parte dos espíritas, no que tange à divulgação e à propagação do Espiritismo. Faz-se mister a necessidade de repensarmos este item! Buscando ideias e aplicando medidas para que os ensinamentos advindos da Espiritualidade Maior se propaguem com maior intensidade em todos os níveis socioculturais, particularmente nas classes vistas como as menos favorecidas em todos os aspectos socioeconômicos. O Espiritismo vem nos brindando com verdades que nos convidam a criar o diálogo espírita-cristão entre as pessoas comuns ao nosso relacionamento, visando compartilhar esses esclarecimentos com aqueles nem sempre espíritas, nem sempre frequentadores de reuniões ou centros espíritas. Nem sempre participantes de congressos espíritas, nem sempre simpáticos à literatura espírita ou à doutrina. Uma vez o Espiritismo incorporado nas massas, fatos chocantes como esta liberação do aborto, gerando decisões infelizes por parte daquelas mulheres que optarem por fazê-lo, serão banidos, se não na totalidade, ao menos, diminuídos, até que cessem por completo.
Não pretendemos, com tais colocações, solicitar aos amigos que saiam às ruas à procura de adeptos, carregando os livros da codificação e os pregando em praças públicas. Não!... Refiro-me a se criar o saudável e necessário hábito de se “conversar” sobre os ensinamentos obtidos na sagrada doutrina, a partir da nossa manicure, nosso jardineiro, nosso pedreiro, nosso zelador, nossa secretária doméstica, nosso vizinho, e com todos aqueles com quem, direta ou indiretamente, nos relacionarmos. Para tanto, busquemos nas nossas lembranças a quantidade de vezes que “jogamos conversa fora”, literalmente falando! Gastando nosso tempo com conversas vazias, para não dizer vãs ou fúteis, e as comparemos com a quantidade de vezes que trocamos informações com o propósito de propagar os ensinamentos espíritas cristãos dignificando a nossa crença e, perguntemo-nos: “Quantas oportunidades perdemos nessa existência de falarmos sobre o aborto; sobre o suicídio; sobre a eutanásia; sobre os vícios; e suas consequências à luz do Espiritismo? “Conversas” que poderiam ser descerradas com fabulosos argumentos contidos na codificação? A resposta a esta questão pertence ao questionador! Mas o resultado pode ser pesado. Se mais vezes gastamos nosso tempo edificando, menos colaboramos para a ignorância do mundo. Se mais vezes gastamos nosso tempo com conversas vãs, mais colaboramos para tais ignorâncias.
Em se considerando as gestantes portadoras de fetos diagnosticados com a anencefalia, que há poucos dias atrás se viam impedidas de praticar o aborto, caso o preferissem pelo fato de ser este uma ação ilegal, é fácil concluir que, agora, munidas desse direito, optem por fazê-lo.
Isso se deve ao fato de, embora as pessoas tragam gravadas em suas consciências as leis divinas, ainda as conservam em estado muito latente. Habituadas a guiar-se pela superficialidade dos fatos, sem buscarem se aprofundar nas questões do Espírito, não têm nelas desenvolvida a capacidade de ver além da matéria. Situando-se, então, em condições mentais de baixo teor evolutivo, quanto aos seus Espíritos, tendem a equivocar-se em relação aos valores reais que regem a vida. Assim sendo, não cogitaram em autorizar leis degradantes como essas. Tampouco cogitaram aqueles que seguem a mesma linha de pensamento, dentre eles, as mulheres que vierem a optar pelo aborto.
É possível que, para estes, o ato de praticar o aborto e/ou aprová-lo apenas signifique abreviar ou prevenir-se de padecer, ou de se fazer padecer sofrimentos maiores pelos quais, talvez, já estejam padecendo. Não julgam estar praticando um ato criminoso. Prendem-se ao “aqui e agora” por lhes faltar o conhecimento espírita-cristão. Não nos cabe julgá-los! Ou condená-los. Antes, socorrê-los!
Entretanto, se alguma dificuldade houver em se fazê-lo, pela dor íntima que essa questão possa nos causar, ainda assim, busquemos o concurso divino nas palavras amigas do evangelho de Jesus. Nele estarão contidos as lições e os exemplos de perdão, benevolência, misericórdia. Sentimentos que a doutrina tem auxiliado a florescer no nosso íntimo, e que estamos sendo chamados a exercê-los!
Façamos um esforço para tentar compreender esses juízes. E logo perceberemos que, certamente, os mesmos devem ter passado por dilemas tortuosos e pressões desgastantes que os levaram a optar pela aprovação desta lei. Observemos o cuidado com que registraram o fato, deixando a decisão final desta prática para as mães em questão, demonstrando, com esta atitude, a consciência a lhes cobrar o contrário. É possível que tenham considerado, somente, a dolorosa situação emocional das mulheres sem considerar aquilo que eles acreditam ser apenas um “pedaço de carne”. Mulheres/mães que estão sendo dilapidadas pela dor de se verem prestes a perder seus filhos, seja no ventre, através do aborto, seja logo após o seu nascimento, e, por isso mesmo, são dignas de compaixão.
Vale narrar aqui, para melhor avaliar essa dor, uma declaração feita por um cidadão ao ser entrevistado pelo repórter de uma emissora da TV: “Numa gestação saudável, os pais preparam o quarto e o enxoval dos filhinhos esperados. Numa gestação apresentando tais anomalias, prepara-se o velório desses filhinhos...”.
Mediante este comovente e preocupante comentário que, por si só inspira conivência com tal lei, observamos também, literalmente, a urgente necessidade da divulgação da doutrina em massa, devendo esta ir além dos Centros Espíritas, além das literaturas, além da internet, meios estes quase que direcionados aos próprios espíritas e aos seus simpatizantes. A Doutrina precisa ser compartilhada com a população comum, a partir das pessoas de nossa convivência, tais como as citadas acima.
O dito popular “a voz do povo é a voz de Deus” nunca antes foi tão necessário de ser trabalhado pelos espíritas como nos dias atuais. A aprovação da recente lei, como a aprovação daquela outra relacionada ao estupro, sinaliza “falhas e lacunas a serem preenchidas na divulgação do Espiritismo junto à população como um todo”.
Sejamos humildes em reconhecer essas falhas! Sejamos mais independentes das “regras e normas” estabelecidas por alguns no sentido de que se venha difundir os ensinamentos espíritas exagerando na “filtragem” das informações recebidas pelos Espíritos e receando a discriminação e/ou o preconceito que o espírita ainda sofre por parte de alguns desinformados do Espiritismo.
Levantemos a VOZ DO ESPIRITISMO com os recursos que já nos foram oferecidos e com aquilo que já possamos oferecer, confiantes de que estamos sendo chamados ao trabalho por já termos condições de executá-lo. E executá-lo bem, pois a espiritualidade não nos convocaria, caso não estivéssemos prontos!
Desse modo, se não pudermos reverter essa situação, poderemos, quem sabe?, atenuá-la de maneira significativa, a ponto de não torná-la mais grave em se prevendo que, a partir dessas leis que aprovaram o aborto por estupro e a mais recente, nos casos de anencefalia, venham também a estendê-las para a da gravidez indesejada.
Que vejamos esta decisão do STF como um alerta para que trabalhemos mais e mais na proposta de levar os conhecimentos espíritas à grande massa, sem temer os obstáculos, buscando na Espiritualidade maior o suporte necessário para continuarmos adiante e para  o Alto! 

Fonte:      Inspirado no ESE – cap. 11, item 14, e no livro “À luz da oração”, pág. 146, Editora O CLARIM – 3a edição/1980.