sexta-feira, setembro 01, 2006

UM ARTIGO E DOIS POEMAS

(Foto tirada em um parque da Bélgica)


Achei este texto esplêndido para nós todos.
Leiam com atenção e aproveitem os ensinamentos que ele encerra.

BANHO NO RIO

Saiba, prezado leitor, que é impossível você banhar-se duas vezes no mesmo rio. Não se trata de nenhum rio especial, dominado por piranhas, ou gelado demais, onde se mergulha uma vez e nunca mais. Pode ser qualquer curso d?água. Quem diz isso é Heráclito (540-480 a.C.), filósofo grego de Éfeso, que, em virtude de suas idéias complexas, era chamado ?o obscuro?. O insólito rio, onde é impossível tomar banho mais de uma vez, está longe de justificar o depreciativo apelido. É fácil entender sua afirmação. Em qualquer trecho onde nos banhemos, fluem sem fim as águas, a seguirem seu curso. É como se fossem rios a se sucederem, infinitamente. As águas de nosso banho não voltarão jamais. Heráclito usava essa imagem para demonstrar que tudo no Universo está em contínua agitação, um fluir incessante, renovando-se as situações, os dias, as horas?Esse movimento é orientado pelo logos, uma idéia diretora, uma razão primordial. Toda a virtude está no esforço por observar os princípios éticos que dele emanam. Mudam as palavras, perpetuam-se os princípios, quando exprimem a verdade. A Doutrina Espírita nos diz que há, realmente, um poder diretor para o Universo, um logos. Ele é sustentado por Deus, o Criador incriado, a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, como está na questão primeira de "O Livro dos Espíritos". O logos consubstancia-se nas leis divinas que regem nossa evolução, das quais nos fala Allan Kardec, particularmente quando aborda As Leis Morais, em "O Livro dos Espíritos". Ser perfectível, o Homem ainda está a caminho, submetido a mecanismos de evolução, como o rio em constante movimento, rumo ao oceano (leia-se perfeição). Sucedem-se os estímulos a cada momento, impondo-nos um caminhar incessante. Ainda que, aparentemente, se repitam as experiências, algo vai mudando em nós, no desenrolar dos anos, renovando-nos como se renovam as águas do rio. Há certa dificuldade para assimilar os princípios do logos. Como explica Heráclito, tendemos, em face de nossa imaturidade, a cair no egocentrismo, a nos situar como se fôssemos o próprio. Pretendemos, então, que tudo gire em torno de nossos interesses e paixões, qual rio represado em buraco profundo. Mas o fluxo incessante das águas o fará transbordar, impondo-lhe seguir adiante. Podemos, no desdobramento de nossas experiências evolutivas, escoar para abismos de vícios e desatinos. Mas também experimentaremos um extravasamento, algo como o tédio da própria estagnação ou o impulso irresistível de abandonar a voragem do eu e atender à divina vocação ? evoluir. A emanar de Deus, a Vida derrama-se, incessante, na intimidade de nosso ser, induzindo-nos a seguir adiante, cada vez mais longe, rumo à gloriosa destinação.

Richard Simonetti é escritor e palestrante espírita. Participa do movimento doutrinário desde o ano de 1957, quando integrou-se ao Centro Espírita Amor e Caridade. Incentivador pioneiro dos Clubes do Livro Espírita, é colaborador assíduo de vários jornais e revistas espíritas.
Outra contribuição nos chega bem oportunamente. Um poema psicografado por Leda Flaborea de quem já tenho postado vários textos tirados de sua coluna do Jornal Espírita
Hoje ela nos oferece:
BARCA DOS SONHOS

Barca dos sonhos
Navega tranqüila
De porto em porto
Levando a ilusão.

Ilusão passageira
De sonhos perdidos
De sonho sonhado
Sem se realizar.

No porto vazio
Sozinha espero
Espero sonhando
A barca aportar.

Chegar e trazer
O sonho de volta
Tranqüila, sonhando
O sonho chegar.

(Recebido por Leda Maria Flaborea,
em 13 de janeiro de 2006 SP SP).
Termino aqui com uma contribuição minha. Meu filho Estêvão, que já se encontra no outro lado da vida há quase 3 anos, faria aniversário no dia 4 de agosto passado. Eu estava envolvida com uma tarefa que me tomou todos os meus minutos de cada dia por uns 30 e poucos dias. Sempre faço um poeminha pra ele nas datas significativas , o que aconteceu também deta vez. Vou postá-lo aqui e assim dividir com vocês minhas emoções.

ESTÊVÃO 2006

Dia frio, molhado, lacrimoso.
Recolho lembranças, choro saudades.
Tento reunir retalhos da tua imagem,
recompor tua face de mandíbulas rijas,
nelas ancorado sempre aquele teu riso
espontâneo, pronto a soltar-se com alarde
ou a desfazer-se de mansinho,
preludiando algo lúdico e prazeroso.

Quanta falta me tens feito!
Três anos de desalentada ausência.
Meninos continuam meninos,
homens, mulheres (poucos os de boa vontade)
continuam por aí.
Sem ti.

Em familia, és lembrado
com a ternura de sempre e
a cada evocação recebemos contentes
os chuviscos de alegria que daí esparzes.

Feliz dia de teu aniversário, filho,
enquanto durar meu exílio aqui.

04 / 08 / 2006 Rio de Janeiro