Meio escondido / Vanda Rodrigues
DESTINAÇÃO DA TERRA
CAUSA DAS MISÉRIAS HUMANAS
É de se
lamentar que a Terra, um planeta dotado de tanta beleza, abrigue tanta dor, tanta
miséria, onde más paixões saiam de controle e onde tanta enfermidade submeta seus
habitantes a tão ásperos sofrimentos. Isto está na mente de tantos quantos
analisem a vida na Terra sem relativizar as condições em que foram apreciados
os quesitos adotados. Sem um termo de comparação, qualquer estudo pode produzir
uma ideia falsa do conjunto. É o nosso caso aqui. Nosso contingente humano na
Terra não é a humanidade inteira, mas apenas uma pequena fração dela. Aos seres dotados de razão que povoam os
inumeráveis mundos do Universo é que damos o nome de Humanidade, sendo a Terra um
pequenino elemento desse conjunto. Por outro lado, é preciso lembrar que a
Terra tem uma destinação específica como lugar de expiação e provas, sendo,
portanto, seus habitantes espíritos que precisam de desenvolvimento para passar
a outro estágio de evolução.
Para que
fique bem clara essa noção, vamos imaginar a Terra como uma cidade grande onde
encontramos bairros providos de todo tipo de conforto, bem como escolas,
hospitais, casas de detenção, ao lado de bairros pobres onde há carência de
bens e serviços básicos para uma vida normal e onde vive uma gente submissa ou
desorientada. Faríamos dos habitantes de uma cidade uma falsa ideia se eles
fossem julgados pelo contingente humano de um de seus bairros mais carentes, ou
pelos doentes dos hospitais ou pelos presos das cadeias. Seria um falso
balanço, uma análise deturpada, unilateral. Do mesmo modo que, numa cidade, a
população não está somente num hospital, numa prisão ou num bairro pobre, a
Humanidade não se compõe só da população da Terra. Da mesma maneira que um
homem sai de um hospital quando curado e saudável, ou da prisão quando se
cumpre seu confinamento, o homem deixa a Terra por mundos mais felizes, quando
se acha refeito de suas carências morais.
Tentando explicar mais detalhadamente, podemos
dizer que coexistem mundos inferiores e mundos superiores. Esse tipo de
qualificação é, porém relativo: cada mundo é inferior ou superior em relação
àqueles que estão acima ou abaixo dele
na escala progressiva. Digamos que seja a Terra o termo de comparação. Que tipo
de viventes seriam encontrados num mundo
em estágio inferior? Seres rudimentares ainda não bafejados pela civilização,
de aspecto tosco, apesar da forma humana, regidos pela força bruta, levando a
vida em busca de alimentos. Mesmo assim, têm uma ideia indefinida de um Ser
Superior que rege a Natureza. É como se fossem crianças que se desenvolvem e
rumam em busca de vida mais completa.
Entre esses estágios, existem inúmeros patamares
até se alcançar o dos Espíritos puros, desmaterializados e plenos de luz, após
uma série de fases evolutivas desde o estado rudimentar.
Nos mundos que ocupam um estágio superior
ao da Terra, as condições de vida material e moral são diferentes. O aspecto
corpóreo é o mesmo, apenas mais aperfeiçoado, como que purificado, sem a
materialidade anterior. Seus sentidos e percepções são mais delicados e eles se
movem com mais fluidez.
Nos espíritos mais desenvolvidos, a leveza
específica dos corpos faz com que a locomoção seja rápida e fácil. Eles
deslizam na superfície ou planam na atmosfera, guiados apenas por sua vontade. Seu espectro é iluminado. A morte é considerada como uma transformação feliz já que não existem dúvidas sobre o futuro. No correr da vida, a alma, livre da matéria compacta, é de radiante lucidez, ficando em estado próximo ao de emancipação permanente e livre transmissão de pensamentos.
O O que há de
extremamente positivo nesses mundos alentados são as relações entre os povos,
sempre aliados, jamais perturbados pela ambição de dominar o vizinho. Não há
dominantes nem dominados, não há privilegiados nem submissos. A única coisa que
conta é a superioridade moral consciente que
aponta a diferença de condições e sinaliza a supremacia. O respeito à
autoridade assim constituída é perfeito, garantia de justiça em seu exercício.
O Ser desse mundo não procura elevar-se
acima de seu semelhante, mas acima de si mesmo para aperfeiçoar-se. Seu esforço
visa a chegar, por meio do estudo à classe dos espíritos puros e igualá-los.
Eles guardam todos os ternos e elevados sentimentos da natureza humana, intensificados,
purificados. A fraternidade nesses mundos une todos os homens, os mais fortes
amparam os mais fracos; ninguém sofre por falta do necessário, ninguém está em
expiação. O mal não existe em mundos como estes.
Na Terra,
precisamos conhecer o mal para sentirmos o bafejo do bem; precisamos da escuridão
para notarmos a luz; precisamos da
moléstia para valorizarmos a saúde.
Nos
mundos superiores, esses contrastes não existem. Há simplesmente a eterna
beleza, a eterna luz, a eterna serenidade da alma.
zeus, Deus, porém, em Sua soberana imparcialidade, cuidou para que não
houvesse mundos privilegiados, proporcionando a todos os mesmos direitos e as
mesmas facilidades para atingi-los. Todos os espíritos começam do mesmo ponto,
em pé de igualdade, e com um direito – o do livre arbítrio. São comuns a todos,
também, as posições a serem conquistadas através do trabalho e da perseverança.
Infelizmente, há os que não se sentem capazes e se entregam, permanecendo por
tempo impreciso, às vezes, por séculos, nas zonas inferiores. Apesar de tudo, a
oportunidade para o reerguimento permanece em aberto.
A Terra, dentro dessa
lei, já esteve em vários estágios. Tendo atingido um de seus períodos de transformação,
aguarda o momento de passar de mundo expiatório a mundo regenerador.
Então, “os homens serão felizes porque a lei de Deus nela reinará”.