terça-feira, fevereiro 05, 2013

À Juventude Universitária de Santa Maria


Aos jovens que partiram rumo ao plano espiritual, estas rosas 
que hão de perfumar seu itinerário e nossas veementes preces
para que se sintam aceitos e protegidos pelos benfeitores 
espirituais que os recebem de braços abertos
 por celebrarem provavelmente o fechamento
de um ciclo de experiências expiatórias.


Aos pais, irmãos, avós, tios, demais parentes e amigos,
que se debatem no sofrimento inominável da perda, 
nossas preces para que consigam assimilar a angustiante  
ausência dos seus e honrar a vida que lhes foi  
confiada pela divina sabedoria.   




Lucubrações sobre o Incêndio de Santa Maria

Mais uma desencarnação coletiva! Como encarar essa realidade que se repete de quando em quando? Qual o seu verdadeiro significado? Como compreender a perfeita justiça divina diante dessas situações de horror e sofrimento para os atingidos e para a coletividade?
O recente 27 de janeiro em que o fogo consumiu  centenas de vidas  na boate Kiss, em Santa Maria / RS, forma ao lado de tantas outras datas em que também houve desencarne coletivo debaixo de grande sofrimento por parte dos que se foram e dos que perderam seus entes queridos.
A comoção é de todos, vivos e desencarnados,  afetados diretamente ou não por tão brutal tragédia, haja vista o registro que nos chega ao conhecimento , vindos dos dois planos de existência – do  nosso mundo material e do plano espiritual.
Neste episódio de agora, o poeta gaúcho expõe sua dor, seu sofrimento , seu sentimento de impotência diante da tragédia, sentimento que é o que nos afeta a todos, na emocionante confissão que faz em seu poema: 


TRAGÉDIA EM SANTA MARIA
                                                                                                   
                                                  Fabrício Carpinejar
                                                             

Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu?
  Morri na Rua dos Andradas, 1925.
  Numa ladeira encrespada de fumaça.
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia.
Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de dezembro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora ao voltar para casa.
Morri porque já entrei numa boate pensando como sairia dali em caso de incêndio,
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta do banheiro com a da emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?
O prédio não aterrissou, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada.
Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e trinta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. 
As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.
                                                                                                          
                                                Janeiro de 2013, Santa   Maria / RS

Há exatos 39 anos, Cornélio Pires nos enviara, do plano espiritual , sua inspirada e consoladora mensagem,  na tentativa de minorar a dor e garantir a fé na justiça divina aos atingidos pelo incêndio do Edifício Joelma.
                                                               

INCÊNDIO EM SÃO PAULO

                    Cornelio Pires


Céu de São Paulo...
O dia recomeça...
O povo bom na rua lida e passa...
Nisso, aparece um rolo de fumaça
E o fogo para cima se arremessa.
A morte inesperada age possessa,
E enquanto ruge,
espanca ou despedaça,
A Terra unida ao
Céu a que se enlaça
É salvação e amor,
servindo à pressa...
A cidade magoada e enternecida
É socorro chorando a despedida,
Trazendo o coração
triste e deserto...
Mas vejo, em prece,
além do povo aflito,
Braços de amor que
chegam do Infinito
E caminhos de luz
no céu aberto...

São Paulo /1974

Das muitas publicações dos dias seguintes ao recente incêndio, tenho em mãos trechos do artigo Reflexões Espíritas sobre a Tragédia de Santa Maria, da autoria da escritora Dora Incontri que fez oportunas considerações sobre os fatos registrados na mencionada cidade.
Como afirma Dora em seu artigo, “...não temos condições de dizer por que aquelas pessoas desencarnaram em condições assim tão aflitivas. Faltam-nos para isso informações de que não dispomos. Os episódios  do Edifício Joelma, ocorridos em fevereiro de 1974, podem dar-nos uma pista, mas sabemos muito bem que, na vida, cada caso é um caso, que pode ou não ter semelhança com outros.
É claro que, com os ensinamentos que temos recebido na doutrina espírita, a questão da morte não nos causa o temor ou as angústias que acometem as pessoas despreparadas para enfrentá-la, mas trata-se de informações genéricas que, evidentemente, podem ou não aplicar-se a determinada situação individualmente considerada.”
Diante disso,  que  dizer aos irmãos e irmãs de Santa Maria?
Podemos, por enquanto, dizer que
“...a morte não existe e, portanto, os jovens que partiram continuam a viver em outro plano, podendo  em determinado momento dar notícias de suas condições...
...a morte traumática deixa marcas naqueles que partem como naqueles que ficam e, por isso, todos precisam de amparo e oração...
...o sofrimento tem sempre significado existencial, o que cada pessoa deve descobrir e transformar em motivo de ascensão...
...a fé, a comunhão com a Espiritualidade, seja ela de que forma for, dá forças ao indivíduo para superar quaisquer traumas, inclusive os decorrentes de fatos como esse...
...as provas que nos acometem na vida não vêm para nos esmagar, mas para serem superadas e vencidas...
...Deus é um pai amoroso, justo e sábio que deseja só o bem para os seus filhos.
Além disso, nada mais nos cabe dizer.
 Não é hora de especular sobre motivos de ordem transcendental que se ocultam em ocorrências dessa natureza.
No tocante a pessoas que supostamente concorreram, por ação ou omissão, para que a tragédia se verificasse, deixemos à justiça que disso se incumba, porque essa é a sua função no plano em que vivemos.
Orações, vibrações, apoio fraternal e pensamentos otimistas eis o que, independentemente de qualquer convicção religiosa, podemos e devemos ofertar a todos aqueles que enfrentaram e ainda enfrentam momentos tão difíceis.”

Que Deus nos inspire e ajude em Sua infinita capacidade de agregar, de conduzir, de amar.

(Informações encontradas  no jornal espírita O Imortal (edição de fevereiro de 2013)