De um passeio ao Arpoador, na hora H: um clique de celular. RECAPITULANDO O EVANGELHO DE JESUS Capítulo V Itens 12 a 18 |
“
Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados”, palavras de Jesus
para sinalizar a compensação que caberá
aos que sofrem na Terra e a resignação que abençoa tais sofrimentos. O que
equivale a dizer que esses sofredores precisam
entender que as dores do mundo são a dívida de faltas passadas e que,
suportadas com paciência, podem poupar
séculos de sofrimentos na vida futura. O homem que sofre é comparável ao
devedor de uma grande quantia a quem seu credor avisa: ‘Se me pagares hoje a
centésima parte do que me deves, eu te darei a quitação de todo o resto, e
serás livre; se não o fizeres, eu te perseguirei até me pagares o último
centavo. Ora, este devedor não faria toda a sorte de esforço para pagar a
fração proposta pelo credor e ainda não lhe agradeceria? Mas tem que manter-se
sem dívidas. Se se quita por um lado, mas torna a endividar-se, não alcançará a
condição de livre. Cada nova falha nesse sentido vai aumentar sua dívida e
punição inevitável, de imediato, ou mais adiante nesta vida, ou em vida futura.
Dessas falhas, a mais intrigante é a falta de
confiança na justiça divina, o
achar-se sofrendo o que não merece, como
se Deus pudesse julgar suas criaturas com parcialidade.
Ao passar
para o mundo dos espíritos, o homem é como o operário que se apresenta no dia
do pagamento. Receberá o prêmio por seus dias de trabalho, enquanto outros - os
felizes da terra - que colocaram seu bem-estar na satisfação do amor próprio, nada
terão, pois seu salário, já recebido na Terra, fora consumido por lá mesmo. A
eles caberá voltar e recomeçar a sua tarefa.
Depende do
próprio homem diminuir ou aumentar o peso de suas provas de acordo com o modo
como encara a vida na Terra. Quanto mais longa ele considere a duração de seu
sofrimento, mais ele sente o peso de suas dores. O que se dispõe a considerar o
lado espiritual, vê a vida corporal como um ponto no infinito, percebe sua
brevidade e conclui que essa instância penosa passará rapidamente: a certeza de
uma nova etapa de menos penas e mais paz o anima e ele agradece a Deus o
sofrimento que o fará dar mais um passo no caminho da evolução espiritual.
O Suicídio e a Loucura
Tema que reclama
cuidado ao ser abordado e posto em discussão.
A placidez e a resignação adquiridas no modo de considerar a vida e a fé
no que o futuro nos reserva dão ao espírito uma paz que é a melhor defesa
contra a loucura e o suicídio. De fato, a maioria dos casos de loucura tem como causa a comoção determinada pelas
agruras da vida que o ser humano não tem forças para enfrentar. Com o concurso do Espiritismo que o pode preparar para enfrentar as dores
deste mundo, ele recebe com mansidão, até com satisfação, os reveses e as
dificuldades que o intimidariam ou revoltariam
em circunstâncias diferentes. O mesmo ocorre com o suicídio. Tirante
aqueles que acontecem em estado embriaguez ou de loucura, e, por isso, chamados
inconscientes, o suicídio tem sempre como causa um arraigado descontentamento.
Ora, aquele que acredita na eternidade
tem paciência mais naturalmente, pois vê termo para seus sofrimentos. Mas para
aquele que pensa que tudo acaba com a vida, que está subjugado pelo peso da dor até finar-se, não tem nada
a esperar e passa a achar natural abreviar sua vida pelo suicídio.
A falta de
crença, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas são os mais
ferrenhos elementos que excitam a covardia
moral - o apelo ao suicídio. E vemos casos de homens
de ciência que se apoiam na autoridade de seu saber para tentarem provar a seus
seguidores que eles nada teem melhor a fazer a não ser abater a vida . E é difícil
dissuadi-los: para eles, o nada é o único remédio heróico, a solução de todos os males.
Assim, vemos
que a propagação de ideias materialistas é o veneno que provoca em um grande
número de pessoas a ideia do suicídio e aqueles que se fazem apóstolos dessas
ideias não imaginam o tamanho da responsabilidade lhe sobrecarregam os ombros.
O Espiritismo muda essa visão. Com ele, não sendo mais admitida a dúvida, o
aspecto da vida muda. Sabemos que a vida se estende além da morte, mas em
outras condições. Daí o surgimento da paciência e da resignação que leva o
crente pra longe da idéia do suicídio, fazendo surgir o que se chama de coragem moral. Sob esse aspecto, um outro
resultado positivo, tem o Espiritismo, talvez mais útil e importante. Ele nos
mostra os próprios suicidas vindo revelar sua incômoda situação, infeliz e
desgastante, o que prova que ninguém viola impunemente a lei de Deus que proíbe
ao homem abreviar sua vida. Há, entre os suicidas, aqueles cujo sofrimento (embora não eterno, apenas temporário) não é
menos terrível de modo tal a dar o que pensar a qualquer um que seja tentado a
se livrar da própria vida, antes de ser chamado por Deus. O espírita tem,
assim, contra a ideia de suicídio, a certeza de uma vida futura; a certeza de
que abreviar a vida leva a um resultado exatamente contrário ao que se espera;
e que o suicídio é um obstáculo para que ele se reúna, no outro mundo, aos
objetos de suas afeições. Daí depreender-se que o suicídio é absolutamente
condenável de qualquer ponto de vista.
Podemos
perceber melhor o que foi estudado nos itens acima lendo o texto intitulado BEM
E MAL SOFRER, de Lacordaire ( Havre / 1863):
“Quando o
Cristo disse: ‘Bem-aventurados os aflitos, que deles é o reino dos céus’, não
se referia àqueles que sofrem em geral, porque todos aqueles que estão neste
mundo sofrem, estejam sobre o trono ou sobre a palha; mas ah! Poucos sofrem
bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los
ao reino de Deus. O desencorajamento é uma falta; Deus vos recusa consolações
porque vos falta coragem. A prece é um
sustentáculo para a alma, porém, ela não basta: é preciso que esteja apoiada
sobre uma fé viva na bondade de Deus. Frequentemente, ele vos disse que não
colocava fardos pesados em ombros fracos; o fardo é proporcional às forças,
como a recompensa é proporcional à resignação e à coragem; maior será a
recompensa quanto a aflição não seja penosa; mas essa recompensa, é preciso
merecê -la, e é por isso que a vida está cheia de tribulações.
O militar que
não é enviado ao campo de batalha não fica contente porque o repouso da retaguarda
no acampamento não lhe proporciona promoção; sede, pois, como o militar e não
desejeis um repouso em que o vosso corpo se enfraqueceria e vossa alma se
entorpeceria. Ficai satisfeitos quando Deus vos envia à luta. Essa luta não é o
fogo da batalha, mas as amarguras da vida, onde é preciso, algumas vezes, mais
coragem do que num combate sangrento, porque aquele que ficaria firme diante do
inimigo se dobrará sob o constrangimento de uma pena moral. O homem não
é recompensado por essa espécie de coragem, mas Deus lhe reserva louros e um
lugar glorioso. Quando vos atinge um motivo de inquietação ou de contrariedade,
esforçai-vos por superá-los e, quando chegardes a dominar os ímpetos da
impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei-vos com satisfação: “Eu fui o
mais forte.”
Bem-aventurados
os aflitos pode, pois, ser traduzido assim: bem-aventurados aqueles que
teem oportunidades de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua
submissão à vontade de Deus porque terão em cêntuplo a alegria que lhes falta
na Terra e, depois do trabalho, virá o repouso.”
Acho que com
esta instrução, pelo espírito iluminado de Lacordaire, ganhamos uma boa base
para refletir sobre os itens estudados em nosso exercício de hoje.