quinta-feira, janeiro 01, 2009

ENTRADA DE 2009

Foto de Adalberto Queiroz

Demorei, mas estou aqui, para abrirmos o ano 2009.
Sob o impacto da crise econômica mundial, diante das catástrofes acontecidas ultimamente aqui e lá fora, ante o desolador estado de beligerância entre israelitas e palestinos em plena mudança de ano, para citar somente fatos mais recentes, podemos até perder a esperança de que problemas tão sérios e de consequências tão drásticas venham a ser resolvidos.
Daí a necessidade de pedirmos a Deus que nos ajude, que nos dê um ano de mobilizações para a solução do atual estado de coisas. É imprescindível o esforço de cada um em prol de uma sociedade mais consciente de seu destino, em busca dos direitos que levem a uma distribuição igualitária dos bens da terra e à preservação da dignidade humana.
Como no Natal, procuro agora uma palavra esclarecida, coerente, determinada que nos auxilie a receber conscientemente o ano 2009.
Com vocês, o vigoroso texto de Frei Beto com que uma amiga me presenteou:

FELIZ ANO NOVO

No próximo ano, soterrarei de perdões o meu mal-querer e de afagos essa sórdida tendência de apostar na desgraça alheia. Serei dom e não dor.

No próximo ano, porei em prática sábias lições de vida: pão que se guarda endurece o coração; a cabeça pensa onde os pés pisam; o contrário do medo não é a coragem, é a fé.

No próximo ano, segredarei aos peregrinos os três aforismos de meu bem-viver: Deus tem sabor de justiça; a vida trafega a bordo do paradoxo; a morte é verbo e não se conjuga no presente, é sempre pretérito ou futuro.

No próximo ano, cultivarei cada um de meus cabelos brancos, modelarei de gorduras a flacidez de minhas carnes e preservarei cioso as rugas que maquiam de sabedoria o meu rosto.

No próximo ano, tratarei o semelhante com a reverência dos anjos e lavarei as portas de minha cidade para acolher em festa os que trazem boas novas.

No próximo ano, violarei todas as regras da civilidade torpe que me engravata de cabrestos e rasgarei as etiquetas que me fazem perder horas em cuidados supérfluos. Arrancarei do pulso as algemas do relógio que me escravizam ao ritmo implacável de minutos e segundos.

No próximo ano, serei irresponsavelmente feliz, liberto dessa onipotência que recobre de fúria a minha excessiva fragilidade. Confessarei a mim mesmo os meus pecados e, crucificado numa roda-gigante, ressuscitarei com a inocência das crianças que sorriem prenhes de vertigens.

No próximo ano, nomearei para o governo da cidade um cavaleiro que chegue montado num burrico e tenha as mãos calosas como quem cavou as entranhas da terra. Não darei lugar aos príncipes revestidos de palavras vãs, nem porei a minha confiança nos arautos surdos ao clamor dos desvalidos.

FELIZ 2009!

E, para terminar, o singelo poema de nossa companheira de fé , a aplaudida poeta Lêda Mello, requisitada por tantos sítios poéticos da internet.

ANO VELHO, NOVO ANO

Ano Velho declinando,

longe não vejo os momentos

em que estive arrumando

as coisas e os sentimentos,

jôio e trigo separando,

limpando compartimentos,

minha casa aprontando

p'ra luz do seu nascimento...

Ano findando, eu pensei:

- O que, vivendo, aprendi?

Como foi que empreguei

o tempo que recebi?

Quanto jôio arranquei

e quanto trigo eu colhi?

Quantos sonhos realizei,

e de quantos me desfiz?

Despeço-me, agradecida,

do período que está findo,

por ajustar minha vida

p'ro ano que vem surgindo.

Esperança revivida

e novo alento sentindo,

alma canta em acolhida:

Ano Novo, és Bem-Vindo!

Arapiraca (AL) – Brasil